Sobral – CE. A Covid-19 fez a primeira vítima entre as comunidades ciganas que residem no Ceará. Nessa terça-feira (2), faleceu em consequência de insuficiência respiratória aguda causada pela enfermidade Antônio Ferreira dos Santos, o cigano Barroso, 63, que residia no Bairro Sumaré, em Sobral, no Norte do Estado. O clima entre as 60 famílias que vivem no local é de pânico, segundo o presidente do Instituto Cigano Brasil (ICB), Rogério Ribeiro. No Ceará, moram cerca de 20 mil ciganos. No Nordeste, eles são aproximadamente 600 mil. No Brasil, três milhões.
“Estamos em polvorosa. Tememos por um genocídio. Vínhamos alertando as autoridades para a carência do nosso povo. São pessoas necessitadas que vivem em aglomeração. Para se ter uma ideia, no Sumaré, onde está a maior concentração de ciganos do Ceará, são mais de 300 pessoas, entre jovens, crianças e idosos”, aponta Rogério Ribeiro.
Denúncia
Há dois meses, o líder calon denunciou a situação, por meio da Agência Eco Nordeste:
300 mil ciganos do Nordeste clamam por ajuda para enfrentar o coronavírus. Rogério Ribeiro afirma que já havia enviado vários ofícios a diversos órgãos públicos do Estado, União e dos municípios cearenses pedindo ajuda em donativos, roupas, auxílio e, principalmente, que fosse providenciada a desinfecção nas comunidades mais numerosas.
“Infelizmente, nada foi feito. Agora o pior estar porvir. Apesar do isolamento social, as pessoas acabam tendo que sair de casa em busca de alimentos. Não sei o que pode acontecer”, declara. O primeiro caso de cigano nordestino a morrer de Covid-19 ocorreu há quase um mês, no último dia 3 de maio, em Jitaúna, na Bahia. Ele foi enterrado no dia seguinte em Jequié.
O cigano Barroso foi sepultado nesse dia 3, no Cemitério São José, em Maracanaú, na presença de poucos familiares e de dirigentes do ICB. Apesar de ter ido morar em Sobral após ter casado, seus pais e irmãos residem no bairro Barroso, em Fortaleza. Por ter sido o primeiro cigano a residir no local, recebeu o apelido do nome do bairro.
Outra comunidade que inspira cuidados é a de Crateús, onde residem 48 famílias ciganas. “Lá tivemos alguns registros. Há 20 dias, um homem encontra-se entubado, em situação delicadíssima. Também já oficiamos às autoridades, solicitando que a localidade onde eles moram seja isolada e que seja prestada toda a assistência. Mas também não fomos atendidos até hoje”.
No Brasil
Os ciganos são cerca de 3 milhões em todo o Brasil, entre os rom; e seus vários subgrupos, como os kalderashi, macwaia, horahane, lovaria e rudari, entre outros; e os calon. No Nordeste, são 300 mil, aproximadamente; no Ceará, 20 mil espalhados por, pelo menos, 60 municípios do Interior.