Biólogo é ameaçado por defender as dunas da Sabiaguaba

Por Adriana Pimentel
Colaboradora

O biólogo Gabriel Aguiar e a advogada Beatriz Azevedo foram ofendidos em redes sociais por defender as dunas da Sabiaguaba

Fortaleza – CE. A defesa do meio ambiente encontra vários obstáculos. Na maioria dos casos, o agressor tem como motivação fatores econômicos relacionados a lucros financeiros. Mas, existe também a atitude antropocêntrica de que a natureza apenas serve aos desejos e caprichos do ser humano.

E, nessa luta em favor da conservação do equilíbrio ecológico, o biólogo e ativista ambiental Gabriel Aguiar vem denunciando, de forma mais incisiva na últimas semanas, a prática ilegal de atividades off-road na Unidade de Conservação do Parque Natural Municipal de Dunas da Sabiaguaba, em Fortaleza, fato que incomodou os que insistem em não respeitar as leis de proibição da prática desse esporte automobilístico no local. Pelas redes sociais, o biólogo recebeu ofensas, ataques pessoais agressivos e até mesmo ameaças de morte, uma delas fazendo referência a crime de pistolagem, ou seja, onde o criminoso recebe uma quantia elevada em dinheiro para assassinar a vítima.

Sobre isso, Gabriel afirma: “estou sendo ameaçado por defender as Dunas da Sabiaguaba. A situação agravou quando publiquei, de um perfil aberto do Instagram, vídeos que mostravam vários carros 4×4 circulando com localização de GPS na Unidade de Conservação das Dunas da Sabiaguaba. A partir dessa, publicação comecei a sofrer dezenas de ataques pessoais em minhas publicações, em publicações de amigos, em páginas de institutos que faço parte”.

Ressalta ainda: “há quase 10 anos venho denunciando crimes ambientais diversos: construções irregulares, desmatamentos, incêndios, aterros, trânsito ilegal de veículos off-road, poluição sonora etc. Mas nunca fui ameaçado assim. Os criminosos tiveram uma ação orquestrada de tentativa de intimidação. Depois de formalizar a denúncia, fui orientado a expor o caso nas minhas redes sociais para, de certa forma, garantir a minha segurança e inibir os agressores, principalmente porque somos um dos países com mais assassinatos de ambientalistas”.

Amiga do biólogo e também ativista ambiental, Beatriz Azevedo, advogada e voluntária do Instituto Verdeluz, também sofreu ataques virtuais, com expressões muito baixas. Beatriz relata que o Instituto está há seis anos no Conselho Gestor da Unidades de Conservação e denunciou as irregularidades e o descaso da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) com a Unidade de Conservação, a falta de efetivação do plano de manejo, e outras ações de proteção para a área.

“Isso nos coloca em uma posição muito vulnerável porque o trabalho que deveria ser feito pela Prefeitura quem tem que fazer somos nós. Mas não temos a estrutura para isso, a capacidade de fiscalizar, e isso nos expõe. Já imaginávamos que corríamos riscos, mas, mesmo assim foi um choque receber esses ataques, que começaram por ameaças no perfil do Instituto Verdeluz, o primeiro a publicar a denúncia do crime da prática ilegal de off-roads nas Dunas da Sabiaguaba”, relata a advogada.

O presidente da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado do Ceará (OAB-CE), João Alfredo Telles Melo, achou importante encaminhar uma comunicação para a Ouvidoria dos Direitos Humanos da OAB-CE, Câmara Municipal de Fortaleza e Assembleia Legislativa do Ceará solicitando que oficializassem a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para o acompanhamento e apuração do caso.

Rede de apoio

E dessa forma foi criada uma rede de apoio e proteção ao Gabriel e à Beatriz e as mesmas redes sociais que foram palco desses ataques, até mesmo de perfis falsos, também receberam incontáveis mensagens de solidariedade.

“Me emocionei com a quantidade de mensagens de apoio que recebi, além do amparo que as instituições de segurança me forneceram. Ainda temo pelas ameaças, mas agora me sinto muito mais forte para seguir lutando e agradeço o acompanhamento de tantas pessoas. Quero que tudo seja apurado, os agressores sejam punidos. Sei que não fui o primeiro e nem serei o último, então é importante ver as instituições funcionando em defesa de pessoas que lutam por causas comuns”, declara Gabriel.

Em nota pública encaminhada à Agência Eco Nordeste, o Greenpeace Fortaleza  de solidariza e apoia o ambientalista Gabriel Aguiar, que é membro da entidade. A instituição se solidariza também com a ambientalista Beatriz Azevedo e com o Instituto Verdeluz, do qual ela faz parte: “Nosso total e irrestrito apoio e solidariedade aos ambientalistas Beatriz Azevedo e Gabriel Aguiar que estão sendo agredidos por exercerem as suas liberdades asseguradas pela Constituição, bem como aos demais grupos e projetos de apoio ao Parque Natural Municipal das Dunas da Sabiaguaba”.

Destaca, ainda: “Por oportuno, esclarecemos que não somos contra a prática do Off-Road, somos contra o descumprimento da legislação e ausência de devida fiscalização e proteção à unidade de conservação de proteção integral Parque Natural Municipal das Dunas da Sabiaguaba”.

Parque Natural Municipal de Dunas da Sabiaguaba

“O Parque das Dunas de Sabiaguaba ameniza o clima de Fortaleza, fornece serviços ecossistêmicos para a cidade inteira e para as comunidades tradicionais que resistem à especulação imobiliária”, destaca o geólogo Jeovah Meireles, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo o professor e pesquisador, trata-se de  um conjunto costeiro com grande quantidade e qualidade de sistemas ambientais integrados: dunas móveis, fixas e semifixas, lagoas interdunares, bosques de manguezais e matas de tabuleiro, praias arenosas e rochosas, recifes coralinos, nascentes de água doce, áreas de desovas de tartarugas, de aves raras e as migratórias, mamíferos, répteis, anfíbios, artrópodes, sítios arqueológicos com mais de 4 mil anos.

Para Jeovah, os principais prejuízos ao ecossistema com prática ilegal de off-road nas dunas da Sabiaguaba são a fragmentação dos sistemas ambientais, os campos de dunas, as lagoas interdunares e costeiras que são aquelas que ficam entre a praia e os campos de dunas numa área mais plana chamada de terraços marinhos.

“Ali durante as chuvas, ficam dezenas e dezenas de lagoas, com afloramento do lençol freático. Os veículos impermeabilizam o solo. Primeiro, eles vão fragmentando cortando essas lagoas devido às estradas que vão construindo de tanto passar por essas áreas, além da poluição sonora que afugenta os animais e aves que vivem no Parque e o óleo que os motores desprendem no solo e desequilibra o ecossistema local, entre outros problemas causados por materiais que são jogados e agridem o meio ambiente, como copos de plásticos, garrafas e latas de bebidas, além de embalagens de alimentos.

Beatriz Azevedo também chama a atenção para os prejuízos sociais porque o Parque é um local de turismo ecológico e a velocidade alta que os carros circulam ali coloca em risco de acidente e atropelamento das pessoas que estão ali fazendo trilhas, ou sand board, uma prática cultural da comunidade. Ela ainda destaca que cada um pode ser defensor do Parque, basta denunciar as irregularidades que vir no local aos órgãos competentes.

Serviço

Batalhão de Polícia de Meio Ambiente (BPMA):  Telefone: (85) 3101-3545 (24h)
Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS): 190
Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis): denuncia.Agefis.Fortaleza.Ce.Gov.Br

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