Por Andréia Vitório
Colaboradora
Maceió – AL. As Mudanças Climáticas têm impactado a dinâmica de corpos hídricos superficiais na região do Semiárido Alagoano, provocando, entre outros fenômenos, o desaparecimento de lagoas, barragens e açudes. Isso é o que mostra um levantamento inédito que está sendo realizado por meio de uma cooperação técnica entre a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e o Centro Integrado de Estudos Georreferenciados (Cieg) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
A pesquisa faz um comparativo entre 1988 e 2018 e busca identificar a influência das Mudanças Climáticas sobre os corpos hídricos da Caatinga e, também, sobre populações vulneráveis que moram na região. A ideia é contribuir com políticas públicas e iniciativas em prol do bioma, que cobre aproximadamente 46% de Alagoas.
O mapeamento dos corpos hídricos em períodos secos na área de Caatinga, em Alagoas, foi realizado a partir de séries históricas de imagens da família de satélites norte-americanos Land SAT. Além disso, o Centro Integrado de Estudos Georreferenciados da Fundaj desenvolveu um novo método para comparação de imagens de 1988 a 2018 – o painel das Nações Unidas e a literatura científica recomendam que qualquer estudo sobre Mudanças Climáticas tenha uma visão temporal de no mínimo 30 anos.
“Nós desenvolvemos um método que nos dá a certeza de que o que a gente está mapeando é água, porque estamos usando uma propriedade física que está contida na imagem que é a energia eletromagnética – cada material tem uma reflectância específica dessa energia em direção ao satélite. Então, a água tem um código específico que nós mapeamos”, explica um dos coordenadores do estudo, o professor titular da Fudaj e também pós-doutor em Gestão de Risco de Desastres Naturais pela Universidade de Buenos Aires, Neison Freire.
Além de imagens de satélites, também embasam a pesquisa entrevistas com secretários municipais de meio ambiente, moradores e trabalhadores rurais, dados censitários e revisão de políticas de açudagem na região.
Resultados preliminares
Com o levantamento, foi possível identificar que entre 1988 e 2018 o número de corpos hídricos superficiais represados, como lagoas, represas e lagos, por exemplo, subiu de 2.003 para 3.133 unidades. Afim de avaliar o perfil dessa mudança, foram criados três grupos: o de corpos que sempre existiram, o dos que não existiam, mas passaram a existir e o dos que desapareceram.
Assim, no decorrer da pesquisa, que deve ser concluída em março de 2020, três pontos chamaram a atenção: o fato de que 1.349 açudes / barragens / lagoas desapareceram do mapa no período, sendo que a maioria (1.288) era menor que 1 hectare; o surgimento de 2.472 novos corpos hídricos, sendo a maioria (2.325) com área inferior a 1 hectare e, por fim, a constatação de que, entre uma data e outra, se mantiveram 660 corpos hídricos, sendo 489 deles também menores que 1 hectare.
Há evidências, ainda, de que as mudanças climáticas vêm alterando as recargas hídricas em pelos menos três grandes lagoas / barragens, que são: Açude do DNOCS, em Delmiro Gouveia,; Lagoa Santa Maria, em Pão de Açúcar; e Lagoa Funda, em Belo Monte.
“Nossa expectativa era que essas águas tivessem se exaurido pelo uso, mas não foi o que a gente constatou. Elas não estão diminuindo pelo uso. Vamos excluir todas as possibilidades para confrontar com parâmetros físicos como precipitação e temperatura para traçar mais detalhadamente os possíveis impactos das mudanças climáticas”, relata o pesquisador Neison Freire.
Questionado sobre os efeitos dessas alterações, ele destaca que os núcleos de desertificação do solo têm se acentuado e que eles coincidem com as áreas onde as lagoas mais desapareceram. E, frisa, ainda, que o impacto dessa realidade é muito acentuado para aquelas populações de alta vulnerabilidade social e pequenos produtores rurais que dependem dessa água para atividades fundamentais à sobrevivência.
Encaminhamentos
Como o Estado de Alagoas não tem uma política estadual de mitigação às Mudanças Climáticas, a ideia é contribuir com o debate e pressionar para que algo seja feito com a finalidade de reverter o quadro. É o que conta o especialista, que também aponta para outras questões: “todos esses municípios contemplados pelo levantamento sofrem com ausência de saneamento básico. Queremos contribuir no sentido de alertar e chamar atenção do Governo do Estado para a necessidade de implantar ações de saneamento e de revitalização de matas ciliares na Caatinga. Faremos, também, recomendações para políticas públicas setoriais com relação à mitigação dos efeitos das Mudanças Climáticas, bem como para conservação e recuperação dos recursos hídricos. Há um vácuo nesse sentido.”
Quem participa
Da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), participam da pesquisa a professora Débora Cavalcanti e a mestranda Flávia Michelle Sampaio, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), além do professor Odair Moraes, do Campus Arapiraca. No âmbito da Fundação Joaquim Nabuco, lidera o estudo o pesquisador Neison Freire, com a colaboração de Vinícius Queiroz e Guilherme Oliveira.
O andamento do estudo científico está disponível no site da Fundação Joaquim Nabuco. Acesse aqui.
Os governantes liberam as construcoes do pmcmv perto das nascentes d’agua.
Moro em uma localidade em Arapiraca – AL que os construtores construiram perto de uma nascente e com agua da propria nascente. Colocam uma.bomba e puxa a agua ate as construcoes. E constroem. Qual nascente nao morre. Pq os governantes autorizam essas construcoes. Os governantes em sua maioria tem culpa na mudança geografica pq nao presevam nem respeitam a natureza.