Por Fernando Gregio
Embrapa Solos

Trabalho dos pesquisadores irá subsidiar governos municipais de Alagoas na escolha dos melhores locais para instalar as barragens | Foto: Roseli Freire de Melo

Maceió – AL. Estudo liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no âmbito do Projeto ZonBarragem, mapeou mais de 12 mil km² do Agreste e do Sertão de Alagoas para indicar áreas potenciais para a construção de barragens subterrâneas, tecnologia social que permite o estoque de água no solo por longos períodos após as chuvas. O Mapa Generalizado de Áreas Potenciais para Construção de Barragens Subterrâneas irá subsidiar um programa estadual a ser iniciado em 2020 que construirá 50 barragens subterrâneas no Semiárido alagoano, beneficiando cerca de 200 famílias.

O mapeamento abrange 38 municípios e foi elaborado tomando como base o Zoneamento Agroecológico de Alagoas (ZAAL). As informações ajudarão os governos estadual e municipais de Alagoas no planejamento da ocupação dos ambientes mais adequados para construção de barragens subterrâneas de forma integrada com a aptidão das terras. O mapa e o programa estadual foram lançados nessa quarta-feira (11), em cerimônia no auditório Aqualtune do Palácio República dos Palmares, no Centro de Maceió (AL).

A partir de uma análise multicritério, com o cruzamento dos parâmetros solo, clima, relevo e geologia, o estudo delimitou três classes de potencial dos ambientes – alta, média e baixa – para a locação e implantação de barragens subterrâneas no Semiárido de Alagoas. Em seguida, as classes de solo foram espacializadas, dando origem ao mapa de potencial edafoclimático para construção de barragens subterrâneas.

Participação de agricultores

“Com o objetivo de aferir as informações do mapa produzido, em cada classe de potencial delimitada foram efetuadas expedições de validações a campo, por microrregião, a partir de uma rede sociotécnica, com a participação de agentes de desenvolvimento e agricultores locais”, conta a pesquisadora da Embrapa Solos Maria Sônia da Silva, líder do projeto ZonBarragem.

A cientista explica que o Estado de Alagoas, com uma área de aproximadamente 28.000 Km², apresenta variações ambientais significativas em termos de solo, geologia, clima, vegetação e recursos hídricos, o que produz espaços com diferentes potencialidades para exploração agrossilvipastoril e alto risco de degradação ambiental.

“O conhecimento dessas variáveis é vital quando se pretende implantar estratégias de desenvolvimento rural assentadas em bases sustentáveis. A utilização de ferramentas de gestão territorial, a exemplo do zoneamento edafoclimático, como método para auxílio de tomadas de decisões, vem crescendo no Brasil, principalmente com o objetivo de recomendar ações de uso e manejo do solo adequados aos diferentes cultivos”, informa.

Como funcionam as barragens subterrâneas

A barragem subterrânea é instalada em ponto estratégico do terreno para aproveitar melhor a chuva no Semiárido | Foto: Marcelino Ribeiro

A barragem subterrânea deve ser instalada em locais situados em ponto estratégico do terreno, onde escorre o maior volume de água no momento da chuva. Sua construção é feita escavando-se uma vala perpendicular ao sentido da descida das águas até a profundidade da camada mais endurecida do solo. Dentro da vala, estende-se um plástico com espessura de 200 micra por toda a extensão da parede que, em geral, varia de 80 a 100 metros de comprimento.

Após o plástico estendido, a vala volta a ser fechada com a terra. Nessa “parede”, deve ser feito um sangradouro com 50 a 70 centímetros de altura. O plástico impermeável barra o escorrimento da água da chuva e provoca a sua infiltração no solo, o que reduz a evaporação. Dessa forma, cria-se uma vazante artificial na qual a umidade do solo se prolonga por um bom tempo, chegando até quase ao fim do período seco no Semiárido.

“A barragem subterrânea é uma tecnologia social hídrica de estoque de água para convivência com o Semiárido que tem tirado muitas famílias da linha da pobreza, gerando alimentos e dignidade para o povo da região”, destaca o coordenador estadual da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Julio César Dias.

Mais produtividade no Semiárido

Entre os destaques desse trabalho está o seu pioneirismo, conforme relata o pesquisador da Embrapa Solos André Julio do Amaral: “Alagoas será o primeiro Estado do Semiárido brasileiro a realizar esse zoneamento, o que o tornará referência no uso e manejo adequado dessa tecnologia, bem como base para estudos em outros estados na Região Nordeste em ambientes de clima Semiárido”.

De acordo com o cientista, a segurança que o mapa produzido pelo projeto ZonBarragem trará na seleção de locais aptos à construção de barragens subterrâneas irá viabilizar sistemas agrícolas mais produtivos, fazendo com que as unidades agrícolas resistam significativamente às intempéries climáticas do Semiárido. “A indicação de ambientes potenciais para seleção de locais ideais para construção de barragens subterrâneas, agrupando áreas relativamente homogêneas, a partir de indicadores de geologia, solo, vegetação, relevo e clima, é necessária e de suma importância como subsídio a políticas públicas.”

Parcerias

O mapa de áreas potenciais que será a base do Programa Estadual de Construção de Barragens Subterrâneas de Alagoas é resultado do projeto ZonBarragem, conduzido e liderado pela Embrapa Solos e com a participação efetiva de pesquisadores e técnicos da Embrapa Semiárido (PE), Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), Embrapa Alimentos e Territórios (AL), ASA Brasil, Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) AL, Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), com apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (Faeal), do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Alagoas (Sebrae-AL) e da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Alagoas (Seagri).

Outro importante suporte para a estruturação do programa estadual foi a experiência do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), desenvolvido pela ASA Brasil, que já construiu mais de 80 barragens subterrâneas em Alagoas. Muitas delas, inclusive, foram utilizadas no processo de validação do mapa construído pelo ZonBarragem. O representante da ASA Brasil no Estado, Albani Rocha, salienta que o mapeamento será fundamental para que mais famílias do Semiárido alagoano sejam beneficiadas pela tecnologia social.

Além do ZonBarragem e da experiência do programa P1+2, o programa estadual tem como suporte um projeto-piloto desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)/Alagoas, em parceria com o Sebrae-AL, no município de São José da Tapera.

“Foi a partir dessa experiência e do ZonBarragem que decidimos mobilizar diversas instituições e contamos com o apoio da deputada estadual Fátima Canuto, que promoveu uma audiência pública para discutir a criação desse programa, capitaneado pelo Estado”, relembra o presidente da Faeal, Álvaro Almeida.

Projeto ZonBarragem

O ZonBarragem é um projeto de zoneamento de áreas potenciais para construção de barragens subterrâneas em Alagoas, iniciado em 2017, com conclusão prevista para 2021. É dividido em três etapas. A primeira delas consistiu na elaboração do mapa de potenciais, com a subsequente etapa de validação das áreas com potencial para construção das barragens. Posteriormente, será realizada sensibilização e capacitação de técnicos e agricultores, sistematização e socialização dos resultados.

Segundo a coordenadora do ZonBarragem, o projeto reafirma a importância da convivência com o Semiárido como estratégia de sustentabilidade e reforça a necessidade de obras de pequeno porte, tecnologias sociais que atendam à demanda hídrica das famílias rurais mais isoladas.

“O estudo está abrindo possibilidades de captação de fundos nacionais e internacionais, e também poderá ser integrado a programas de políticas públicas já em andamento, que buscam suprir a demanda hídrica das populações rurais. Dessa forma, esperamos contribuir com a soberania e segurança alimentar e nutricional das famílias e de seus animais, a diminuição da fome e da pobreza e a inclusão socioprodutiva das comunidades do campo”, declara a pesquisadora Maria Sonia da Silva.

Fonte: Embrapa Solos

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